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Poesia

Poesia

Devolve

(de Mário Lago)

 

Mandaste as velhas cartas comovidas, 

Que na febre do amor te enviei;
Mandaste o que ficou de duas vidas:
O romance, uma dor que provei...
Mandaste tudo, porém,
Falta o melhor que te dei:

Devolve toda a tranqüilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci
Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti


Sem nome
(de Flor Bela Espanca)

 


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

 


A Desconhecida


(autor desconhecido)

Pudera eu imaginar um dia
Que tanta beleza o destino me traria
Presa em um irreal corpo humano
Pelo qual até Afrodite morreria

Veneno que age de imediato
Intoxica-me com todo prazer
Inunda de alegria minha alma
Lava a tristeza do meu ser

Mais forte que o brilho do sol
Mais suave que uma flor ao luar
Em contos e fábulas épicas
Mais bela face não há

Nem mesmo os Românticos Clássicos
amantes da perfeição
Poderiam descrever tal figura
A que amo com meu coração!

 

Poesia do cume

 autor desconhecido

 


No alto daquele cume
Plantei uma roseira
O vento no cume bate
A rosa no cume cheira.


Quando cai a chuva fina
Salpicos no cume caem
Borboletas no cume entram
Sapos do cume saem.


Quando cai a chuva grossa
A água do cume desce
O barro do cume escorre
O mato no cume cresce


Quando cessa a chuva
No cume volta a alegria
Pois torna a brilhar de novo
O Sol que no cume ardia!

 

O QUE ACONTECEU COMIGO

As esquadras acodem ao porto.
O trem corre para as estações.
Eu, mais depressa ainda,
vou a ti,
atraído, arrebatado,
pois que te amo.
Assim como se apeia
o avarento cavaleiro de Púchkin
alegre por encafuar-se em seu sótão,
assim eu
regresso a ti, amada,
com o coração encantado de mim.
Ficais contentes de retornar à casa.
Ali vos livrais da sujeira,
raspando-vos, lavando-vos,
fazendo a barba.
Assim retorno eu a ti.
Por acaso,
indo a ti não volto à minha casa?
Gente terrena ao seio da terra volta.
Sempre volvemos à nossa meta final.
Assim eu,
em tua direção me inclino
apenas nos separamos
mal acabamos de nos ver.

Tag: poesia